quinta-feira, 14 de julho de 2016

Onirizando






“Onirizando”. 

Por Vitalina de Assis. 







Tive um sonho esta noite, melhor, pesadelo. Temos por sonho, imagens reconfortantes, momentos que gostaríamos de viver acordados, ou a encenação do que pensou nossa mente consciente o dia todo, a semana passada, o mês passado, ou aquele momento ímpar em que deveríamos ter dito isto ou aquilo, feito desta ou daquela forma.  Enfim, é um outro momento de atividade, de se relacionar, de vivenciar, enquanto nosso corpo sai de cena para um merecido descanso. Você seria capaz de me contar o que sonhou esta noite? É capaz de perceber se ficou afetado ou não? Se tal sonho, permitiu que reflexionasse sobre tantos ou apenas um assunto, que te vai na alma?

Não procure em minha fala, dados científicos, definições do Aurélio, hipóteses ou estatísticas, não produzirei com tanto esmero. Quero apenas ouvir as palavras, deixar que elas fluam, se pronunciem, contem sua historia.

É possível em dias tão corridos, encontrar quem nos ouça assim? É abrir a boca a falar e escutar ouvidos de olhares desatentos, se fechando lentamente como portas ruidosas, que não queremos ouvir e mais, temos receio de que acordem a casa toda com desconcertante rangido, revelando assim, os nossos mais profundos segredos.  Preferimos então nos calar e sufocar palavras já à porta de nossos lábios e aquilo que não falamos, fatalmente pronunciar-se-á em nosso subconsciente na calada da noite. Se atentos ao despertar, ouviremos ecoando e já quase inaudível, sua fala e algum segredo saltará diante de nossos sentidos. Se atentos ao despertar, afirmo. Aquele momento ímpar, em que no silêncio do nosso quarto e pensamentos ouvimos as batidas do nosso coração e, capazes de perceber o ar entrando e saindo de nossos pulmões, fica fácil ouvir nossa alma.


sexta-feira, 24 de junho de 2016

Partícula


Partícula. 

Por Vitalina de Assis.






Já deu por hoje, por amanhã e por todos os dias que ainda tenho debaixo do sol. 

Já  quase me esgoto. Após o silêncio a seguir meus passos, calar meus lábios, esconder minha vergonha despudorada, poupar-me-ia deste vexame?

E o que dizer ou fazer, se a gentil vida, em uma cartola mágica, não escondeu para mim o amor?

Ressentir-me-ia da vida, se assim o fosse? Fecharia os olhos, retendo na retina a ingratidão por dias vividos na incompletude?

O que sei eu da completude, para avaliar o que me falta? Quem nunca se completa, não tem parâmetros para comparar. 

Entra no dia, sai da noite, amanhece sem o sol, sem as estrelas anoitece, acorda e percebe que ainda é noite para sentimentos hibernais.

Vai-se o inverno e a primavera, nada prima, em meio a flores e perfumes. 

Sou um corpo inerte. Sou Folha dispersa. Sou segredo inconfessável. Sou a muda de dissabores. Sou ruído, fala torpe. Sou silêncio que não se cala. Sou voz que não se escuta. Sou sobra, nunca o todo. Resto, poeira, pó.

Um sopro. Fragmento. Átomo de mim.