Partícula.
Por Vitalina de Assis.
Já deu por hoje, por amanhã e por todos os dias que
ainda tenho debaixo do sol.
Já quase me esgoto. Após o silêncio a seguir meus
passos, calar meus lábios, esconder minha vergonha despudorada, poupar-me-ia
deste vexame?
E o que dizer ou fazer, se a gentil vida, em uma
cartola mágica, não escondeu para mim o amor?
Ressentir-me-ia da vida, se assim o fosse? Fecharia os
olhos, retendo na retina a ingratidão por dias vividos na incompletude?
O que sei eu da completude, para avaliar o que me
falta? Quem nunca se completa, não tem parâmetros para comparar.
Entra no dia, sai da noite, amanhece sem o sol, sem as
estrelas anoitece, acorda e percebe que ainda é noite para sentimentos
hibernais.
Vai-se o inverno e a primavera, nada prima, em meio a
flores e perfumes.
Sou um corpo inerte. Sou Folha dispersa. Sou segredo
inconfessável. Sou a muda de dissabores. Sou ruído, fala torpe. Sou silêncio
que não se cala. Sou voz que não se escuta. Sou sobra, nunca o todo. Resto,
poeira, pó.
Um sopro. Fragmento. Átomo de mim.