quinta-feira, 21 de junho de 2018

Ausência



Por Vitalina de Assis.





Hoje pensei em ausentar-me, tornar-me parte do oxigênio que me rodeia. 

Nem sequer temos consciência do ar que respiramos, está tão disponível, tão corriqueiro, tão essencial e abundante, excessivamente abundante, até que falte a força em nossos pulmões e só aí compreenderemos seu real valor, sua presença vital em nossos. 

Somos assim, enquanto pessoas? Quando é que somos verdadeiramente essenciais e indispensáveis? E para quem? 

Estas perguntas ecoam em meu ser em busca de respostas. Há dias em que somos pleno questionamento, sem contudo, sermos plena certeza. 

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Aquiescência.







Permito-me transitar por lugares, muitas vezes esquecido, em um canto qualquer de minha existência. Há tanta coisa a ser resgatada, outras milhares para serem elaboradas e não poucas para serem deixadas lá, bem quietinhas, repousando, esquecidas. 


Fato é que a nossa história não se perde e não deve em tempo algum nos envergonhar, pois tudo serviu para moldar a pessoa que somos hoje, e ainda que, em alguns momentos nos perguntemos, e daí? Qual o sentido de tudo isto? Basta termos olhos gentis e compassivos e veremos que todas as coisas possuem seu propósito e que bem ou mal (depende do nosso estado de espírito nossa avaliação) pode-se reinventar de novo e de novo. 







segunda-feira, 29 de maio de 2017

Espero.



Por Vitalina de Assis.




Tem dias em que acordo com a ansiedade sufocando-me em um abraço que insiste em prender-me. Tento ficar serena, tento convencê-la a dar-me um tempo, tento dialogar, quem sabe assim compreende meu desassossego e me solte por inteiro, ainda que momentaneamente. A tirana não me solta, finge amar-me e se diz feliz por possuir-me.

Por onde anda o amor? Não me completo e como posso na incompletude, completar o que quer que seja? Penso no destino... e na curva na qual diviso-o  mudar de lado. Poderias deixar de ser tão inconstante e paralisar-se um pouco?  Não! Um pouco não! Já fizestes isto em outra ocasião e quando pensei assentar-me na felicidade, levantou-se e seguiu adiante tão ligeiro que perdi seu rastro e me encontro no vácuo de emoções sentidas das quais a desmemoria, não se ocupa.

Que faço então? Respiro e dou conta de que estou viva e gritos silenciosos se fazem audíveis no silêncio da minha alma.
Tenho ânsias de punir objeto da minha dor, angústia, ansiedade ou mesmo uma ausência, entretanto, punida estou.

Talvez não tenha um corpo, talvez não tenha um rosto, talvez nunca tenha sido real. Ou talvez seja um corpo, seja um rosto, seja real... em outro tempo, em outra vida, em um sonho qualquer. 

Vens sobriedade possuir-me disfarçadamente, aproxima-te da ansiedade, faz-lhe um afago, se ofereça em amores.  Ansiedade flerta e aceita a corte. Sinto afrouxar sua pressão sobre mim, sobriedade assume meus medos e angústias discursa calmaria.

Vejo luz, aquieta minhas entranhas.
Outra face – esperança sorri. Sorrio. Compreendo. Espero novamente. Imponho certeza. Espero.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Onirizando






“Onirizando”. 

Por Vitalina de Assis. 







Tive um sonho esta noite, melhor, pesadelo. Temos por sonho, imagens reconfortantes, momentos que gostaríamos de viver acordados, ou a encenação do que pensou nossa mente consciente o dia todo, a semana passada, o mês passado, ou aquele momento ímpar em que deveríamos ter dito isto ou aquilo, feito desta ou daquela forma.  Enfim, é um outro momento de atividade, de se relacionar, de vivenciar, enquanto nosso corpo sai de cena para um merecido descanso. Você seria capaz de me contar o que sonhou esta noite? É capaz de perceber se ficou afetado ou não? Se tal sonho, permitiu que reflexionasse sobre tantos ou apenas um assunto, que te vai na alma?

Não procure em minha fala, dados científicos, definições do Aurélio, hipóteses ou estatísticas, não produzirei com tanto esmero. Quero apenas ouvir as palavras, deixar que elas fluam, se pronunciem, contem sua historia.

É possível em dias tão corridos, encontrar quem nos ouça assim? É abrir a boca a falar e escutar ouvidos de olhares desatentos, se fechando lentamente como portas ruidosas, que não queremos ouvir e mais, temos receio de que acordem a casa toda com desconcertante rangido, revelando assim, os nossos mais profundos segredos.  Preferimos então nos calar e sufocar palavras já à porta de nossos lábios e aquilo que não falamos, fatalmente pronunciar-se-á em nosso subconsciente na calada da noite. Se atentos ao despertar, ouviremos ecoando e já quase inaudível, sua fala e algum segredo saltará diante de nossos sentidos. Se atentos ao despertar, afirmo. Aquele momento ímpar, em que no silêncio do nosso quarto e pensamentos ouvimos as batidas do nosso coração e, capazes de perceber o ar entrando e saindo de nossos pulmões, fica fácil ouvir nossa alma.


sexta-feira, 24 de junho de 2016

Partícula


Partícula. 

Por Vitalina de Assis.






Já deu por hoje, por amanhã e por todos os dias que ainda tenho debaixo do sol. 

Já  quase me esgoto. Após o silêncio a seguir meus passos, calar meus lábios, esconder minha vergonha despudorada, poupar-me-ia deste vexame?

E o que dizer ou fazer, se a gentil vida, em uma cartola mágica, não escondeu para mim o amor?

Ressentir-me-ia da vida, se assim o fosse? Fecharia os olhos, retendo na retina a ingratidão por dias vividos na incompletude?

O que sei eu da completude, para avaliar o que me falta? Quem nunca se completa, não tem parâmetros para comparar. 

Entra no dia, sai da noite, amanhece sem o sol, sem as estrelas anoitece, acorda e percebe que ainda é noite para sentimentos hibernais.

Vai-se o inverno e a primavera, nada prima, em meio a flores e perfumes. 

Sou um corpo inerte. Sou Folha dispersa. Sou segredo inconfessável. Sou a muda de dissabores. Sou ruído, fala torpe. Sou silêncio que não se cala. Sou voz que não se escuta. Sou sobra, nunca o todo. Resto, poeira, pó.

Um sopro. Fragmento. Átomo de mim.



quinta-feira, 22 de maio de 2014

Resgate.





Sentiu um rubor na face que avaliou ser um sentimento de vergonha pelo o que acabara de fazer, mas como livrar-se da alegria pelo feito? Como impedir que sua pele eriçasse de embriaguez e por prazeres não mais contido? Poderia considerar este feito uma vitória? Um resgate de si mesma?

Lembrou-se de sentimentos que queriam ilha-la a todo custo, da dor que cortava a sua alma e negava toda e qualquer incidência solar sobre suas trevas. Que luz e brilho incidiam sobre si? Questionava seu estado de espírito agora visivelmente alterado.

Não carregava e nem pesava sua alma. Estava leve, flutuava. Dizia-se feliz. Rompera afinal? Que limites e privações lançava para longe de si? Decidiu não pensar. Apropriou-se de uma vitória, talvez momentânea sobre males e dores. Não pensaria, importar-se tampouco. Decidiu redigir sua historia de liberação.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Inércia.






Só consigo me resolver, virar a página, quando esgoto minhas palavras, se é que isto é possível. Já não fazia mais sentido enviar mensagens, quando, ao invés de respondê-las com o entusiasmo de antes, "monossilabicamente" inferia-me o seu desinteresse, que dizia ser trabalho, reuniões, almoços, viagens, uma correria desenfreada. Li perfeitamente nas entrelinhas, o que não ousava escrever na pauta da melodia que minha alma desejava executar. 

Quando nossos olhares encontraram-se, poderia jurar que uma química e empatia recíproca se instalara,  mas inexplicavelmente, meses depois, não se encontrava mais disponível o olhar que me aquecia e ao fazer-se presente ao telefone ou respondendo mensagens, era simplesmente a  gentil resposta a  um, "perceba-me aqui, por favor!"  Sem os desejados adjetivos que fazia dançar meu espírito e rodopiar minha alma,  uma formalidade  se impunha a contragosto do meu querer. 

Meu querer absoluto era ter-te,  perder-me nos teus abraços, degustar teu gosto, sentir tua força, tua delicadeza, encontrar-me em prazeres, gozar. No entanto, ele se fora! Deixou-me ao relento dos meus desejos e sequer explicou-se. Não se deve tratar uma mulher assim. Jamais! 

Mulher é sentimento, pele, percepção. Necessitamos ouvir e independente de um sim ou  não, isto na verdade pouco importa, o que importa é perceber que o outro considerou-nos o suficiente para terminar, se iniciou-se algo e não foi a contento no caminhar. Percebemos a magia, vemos suas cores, sentimos seu aroma, mas somos incapazes, com a mesma sensibilidade e  perspicácia perceber que o encanto quebrou-se, embora o intuíamos em nosso mais profundo sentir. Mas o que a intuição? Apenas a percepção direta, clara e imediata de uma possível verdade, sem o auxílio do raciocínio. Isto é ser mulher, ser desprovida da racionalidade, não baseamos nossos sentimentos na razão e na lógica. Razão e lógica é a forma masculina de amar ou desamar alguém, nós, mulheres, transitamos nossos sentimentos em outra "lógica", o que significa que a mesma é o desejo autêntico de que se compreenda que, o que é o óbvio para olhares masculinos, não é tão óbvio assim em nossos espelhos do sentir. 

Nossos espelhos refletem imagens que zombam da razão, que zomba do nossos sentimentos e ficamos entrincheirados, entre um e outro. Na falta de um cuidado maior com o que sentimos ou intuímos, nos ressentimos recolhendo ao nosso âmago, não o encantamento que tirou-nos da nossa mesmice diária e nos fez sonhar, mas o ressentimento provocado pelo descaso que  substantivou-se em tantos compromissos inadiáveis, números que ocuparam o lugar do ser. Nesta roda viva que nos degusta, "cativar" não comporta mais responsabilidade com alguém que cativamos?  Cativamos "aquilo" (entenda-se por trabalho, compromissos, metas) e estes "cativados", tornam-se ABSOLUTAMENTE responsáveis, eternamente responsáveis em prender-nos no imediatismo, na urgência, cumprindo fielmente sua proposta de manter-nos na periferia do que realmente importa. Não giramos mais em torno do nosso umbigo onde se era mais fácil alcançar o outro, embora o "girar em torno do umbigo"  denote a ideia de afastamento, o estar longe do umbigo é, irremediavelmente estar desligado, cortado do que realmente pode fazer-nos bem. Precisamos urgentemente reatar laços, submeter-nos a uma dependência saudável  do outro, das relações, dos sonhos e desejos que farão com que compreendamos de fato a verdadeira essência do que versou  Saint Exupéry, imortalizada no romance: O Pequeno Príncipe: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".

 Eternamente pode ser  um peso do qual queremos fugir todo tempo. Eu não imputaria um peso deste porte a  nada neste mundo tão efêmero, mas considero parte, desta maneira de pensar ou seja, somos responsáveis  em pontuar e deixar claro, dentro do absolutamente possível, o que sentimos, não sentimos, queremos, não queremos mais. Saia da inércia.

Só consigo me resolver, virar a página, quando esgoto minhas palavras, se é que isto é possível. Já não fazia mais sentido enviar mensagens, quando, ao invés de respondê-las com o entusiasmo de antes, "monossilabicamente" inferia-me o seu desinteresse, que dizia ser trabalho, reuniões, almoços, viagens, uma correria desenfreada. Li perfeitamente nas entrelinhas, o que não ousava escrever na pauta da melodia que minha alma desejava executar. 

Quando nossos olhares encontraram-se, poderia jurar que uma química e empatia recíproca se instalara,  mas inexplicavelmente, meses depois, não se encontrava mais disponível o olhar que me aquecia e ao fazer-se presente ao telefone ou respondendo mensagens, era simplesmente a  gentil resposta a  um, "perceba-me aqui, por favor!"  Sem os desejados adjetivos que fazia dançar meu espírito e rodopiar minha alma,  uma formalidade  se impunha a contragosto do meu querer. 

Meu querer absoluto era ter-te,  perder-me nos teus abraços, degustar teu gosto, sentir tua força, tua delicadeza, encontrar-me em prazeres, gozar. No entanto, ele se fora! Deixou-me ao relento dos meus desejos e sequer explicou-se. Não se deve tratar uma mulher assim. Jamais! 

Mulher é sentimento, pele, percepção. Necessitamos ouvir e independente de um sim ou  não, isto na verdade pouco importa, o que importa é perceber que o outro considerou-nos o suficiente para terminar, se iniciou-se algo e não foi a contento no caminhar. Percebemos a magia, vemos suas cores, sentimos seu aroma, mas somos incapazes, com a mesma sensibilidade e  perspicácia perceber que o encanto quebrou-se, embora o intuíamos em nosso mais profundo sentir. Mas o que a intuição? Apenas a percepção direta, clara e imediata de uma possível verdade, sem o auxílio do raciocínio. Isto é ser mulher, ser desprovida da racionalidade, não baseamos nossos sentimentos na razão e na lógica. Razão e lógica é a forma masculina de amar ou desamar alguém, nós, mulheres, transitamos nossos sentimentos em outra "lógica", o que significa que a mesma é o desejo autêntico de que se compreenda que, o que é o óbvio para olhares masculinos, não é tão óbvio assim em nossos espelhos do sentir. 

Nossos espelhos refletem imagens que zombam da razão, que zomba do nossos sentimentos e ficamos entrincheirados, entre um e outro. Na falta de um cuidado maior com o que sentimos ou intuímos, nos ressentimos recolhendo ao nosso âmago, não o encantamento que tirou-nos da nossa mesmice diária e nos fez sonhar, mas o ressentimento provocado pelo descaso que  substantivou-se em tantos compromissos inadiáveis, números que ocuparam o lugar do ser. Nesta roda viva que nos degusta, "cativar" não comporta mais responsabilidade com alguém que cativamos?  Cativamos "aquilo" (entenda-se por trabalho, compromissos, metas) e estes "cativados", tornam-se ABSOLUTAMENTE responsáveis, eternamente responsáveis em prender-nos no imediatismo, na urgência, cumprindo fielmente sua proposta de manter-nos na periferia do que realmente importa. Não giramos mais em torno do nosso umbigo onde se era mais fácil alcançar o outro, embora o "girar em torno do umbigo"  denote a ideia de afastamento, o estar longe do umbigo é, irremediavelmente estar desligado, cortado do que realmente pode fazer-nos bem. Precisamos urgentemente reatar laços, submeter-nos a uma dependência saudável  do outro, das relações, dos sonhos e desejos que farão com que compreendamos de fato a verdadeira essência do que versou  Saint Exupéry, imortalizada no romance: O Pequeno Príncipe: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".


 Eternamente pode ser  um peso do qual queremos fugir todo tempo. Eu não imputaria um peso deste porte a  nada neste mundo tão efêmero, mas considero parte, desta maneira de pensar ou seja, somos responsáveis  em pontuar e deixar claro, dentro do absolutamente possível, o que sentimos, não sentimos, queremos, não queremos mais. Saia da inércia.