Só consigo me resolver, virar a página, quando esgoto minhas palavras,
se é que isto é possível. Já não fazia mais sentido enviar mensagens, quando, ao
invés de respondê-las com o entusiasmo de antes, "monossilabicamente" inferia-me
o seu desinteresse, que dizia ser trabalho, reuniões, almoços, viagens, uma
correria desenfreada. Li perfeitamente nas entrelinhas, o que não ousava
escrever na pauta da melodia que minha alma desejava
executar.
Quando nossos olhares encontraram-se, poderia jurar que uma
química e empatia recíproca se instalara, mas inexplicavelmente, dias depois,
não se encontrava mais disponível o olhar que me aquecia e ao fazer-se presente
ao telefone ou respondendo mensagens, era simplesmente a gentil resposta a um,
"perceba-me aqui, por favor!" Sem os desejados adjetivos que fazia dançar meu
espírito e rodopiar minha alma, uma formalidade se impunha a contragosto do
meu querer.
Meu querer absoluto era ter-te, perder-me nos teus abraços, conhecer
o teu gosto, sentir a tua força, tua delicadeza, encontrar-me em prazeres,
gozar. No entanto, ele se fora! Deixou-me ao relento dos meus desejos e sequer
explicou-se. Não se deve tratar uma mulher assim.
Jamais!
Mulher é sentimento, pele, audição. Necessitamos ouvir
independentemente de um sim ou não, isto na verdade pouco importa, o que
importa é perceber que o outro considerou-nos o suficiente para terminar, se
algo iniciou-se e não foi a contento. Percebemos a magia, vemos suas cores,
sentimos seu aroma, mas somos incapazes, com a mesma sensibilidade e
perspicácia perceber que o encanto quebrou-se, embora o intuíamos em nosso mais
profundo sentir. Mas o que a intuição? Apenas a percepção direta, clara e
imediata de uma possível verdade, sem o auxílio do raciocínio. Isto é ser
mulher, ser desprovida da racionalidade, não baseamos nossos sentimentos na
razão e na lógica. Razão e lógica é a forma masculina de amar ou desamar alguém,
nós, mulheres, transitamos nossos sentimentos em outra "lógica", o que significa
que a nossa lógica é o desejo autêntico de que se compreenda que, o que é o
óbvio para olhares masculinos, não é tão óbvio assim em nossos espelhos do
sentir.
Nossos espelhos refletem imagens que zombam da razão, que zomba do
nossos sentimentos e ficamos entrincheirados, entre um e outro. Na falta de um
cuidado maior com o que sentimos ou intuímos, nos ressentimos recolhendo ao
nosso âmago, não o encantamento que tirou-nos da nossa mesmice diária e nos fez
sonhar, mas o ressentimento provocado pelo descaso que substantivou-se. em
tantos compromissos inadiáveis, números que ocuparam o lugar do ser. Nesta roda
viva que nos degusta, "cativar" não comporta mais responsabilidade com alguém
que cativamos. Cativamos "aquilo" (entenda por trabalho, compromissos, metas) e
estes "cativados", tornam-se ABSOLUTAMENTE responsáveis, eternamente
responsáveis em prender-nos no imediatismo, na urgência, cumprindo fielmente sua
proposta de manter-nos na periferia do que realmente importa. Não giramos mais
em torno do nosso umbigo onde se era mais fácil alcançar o outro, embora o
"girar em torno do umbigo" denote a ideia de afastamento do outro, estar longe
do umbigo é, irremediavelmente estar desligado, cortado do que realmente pode
fazer-nos bem. Precisamos urgentemente reatar laços, submeter-nos a uma
dependência saudável um do outro, das relações, dos sonhos e desejos que farão
com que compreendamos de fato a verdadeira essência do que versou Saint
Exupéry, imortalizada no romance: O Pequeno Príncipe: "Tú te tornas eternamente
responsável por aquilo que cativas".
Eternamente pode ser um peso do qual queremos fugir todo tempo. Eu
não imputaria um peso deste porte a nada neste mundo tão efêmero, mas considero
parte desta maneira de pensar ou seja, somos responsáveis em pontuar e deixar
claro, dentro do absolutamente possível, o que sentimos, não sentimos, queremos,
não queremos mais. Saia da inércia.
Comentário de Irene Duarte em 7 outubro 2013 às 1:40
ResponderExcluirDeu pra sentir que é um momento muito especial... uma experiência única e que precisa ser compartilhada para tornar a vida mais leve. Parabéns pelo sincero e bem elaborado texto.
Beijoss
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Comentário de Márcia Fernandes Vilarinho Lopes em 4 outubro 2013 às 20:06
ResponderExcluirAbsolutamente claro. Absolutamente sincero. Absolutamente doído. Absolutamente poético. Beijos